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MARÇO

Entrevista para a TV Agreste


REVISTA PORTAL DA CIDADE - A DANÇA ASSUME SEU ESPAÇO


Nesse texto será destacada a trajetória de Edifranck Alves, uma das figuras mais importantes da história conteporânea de Alagoinhas; mas primeiro se tentará entender o que está acontecendo no universo artístico da cidade no momento. Alagoinhas  mais do que nunca, dança. Uma história que será contada a partir da Academia La Dance, sob o comando e a inspiração de Jô Correia, agora apresenta novas propostas como a do grupo Mescla de Patrícia Virgínia, a abertura de uma franquia da Ebateca na cidade aos cuidados de Deise Vieira e Caio Lincoln e o retorno de Eloy Rodrigues para coreografar o Grupo Gata e Cia e colaborar com o processo de descentralização da dança na cidade por meio de projetos sociais.

A La Dance mostra sua força recebendo recetemente prêmio em festivais. O Grupo Mescla realiza um trabalho social com mais de 500 integrantes reunindo crianças, adolescentes e idosos. A presença da Ebateca na cidade, desde o início do ano, é emblemática, pois todos os agentes dessa transformação rítmica passaram pela matriz da escola em Salvador, a primeira a trazer o método Royal para a América do Sul.

A dança que foi altamente reprimida pelo catolicismo primitivo, com toda sua doutrina de negação do corpo em favor do espírito, ressurge na idade média. O ballet foi criado na Itália, na Renascença. A França tornou-se seu grande centro. Raoul Auger Feuillet, um francês estabeleceu, no fim do século XIX, a primeira gramática e o primeiro código da Dança francesa, que mais tarde viraria base para se ensinar e aprender qualquer outra Dança. Então Marius Petipa levou tudo isso para a Rússia, pegou Tchaikovsky, juntou com a “gramática” de Feuillet, e deu ao mundo o que viria a ser considerado três das mais importantes montagens do gênero: a “Bela Adormecida”, o “Quebra-Nozes” e o “Lago dos Cisnes”. Serge Diaghilev dá continuidade e renova, por incrível que pareça, o que já era perfeito, isso no início do século XX. Contando com o aparecimento do gênio Vaslav Nijinski. Nessa mesma época, surge Isadora Duncan dizendo-se inimiga do balé, o qual considerava uma arte falsa e absurda. Seu radicalismo valeu a criação das vertentes moderna e contemporânea da dança.

Interessante é que nada é dispensável hoje, para a formação do dançarino, a prórpia Isadora criou seu método, baseado em danças antigas de vários países. A dança contemporânea que parece desafiar os métodos, bobagem... existem várias “escolas” para formar e referencializar os bailarinos. É bom contar essa história toda, porque quem está movimentando a cena da dança, na cidade, participou do ambiente artístico de Salvador, onde todas essas influências sempre estiveram tão presentes.

No final das contas, em Alagoinhas se ensina balé, porque em todo lugar que se vá é muito útil, e jazz, porque tem a ver com nossas origens africanas e é uma boa forma de fazer a ponte para o moderno e para o contemporâneo. Então, a La Dance e a Ebateca, dividndo a mesma rua, também dividem o mesmo filão de mercado: Balé e Jazz. Com algumas diferenças, a La Dance trabalha com ginástica. A Ebateca oferece Dança de Salão, Teatro e Karatê.

Deise Vieira (Ebateca) acha que dançar aumenta a sensibilidade, torna as pessoas despertas para suas sensações, algo que, para ela, está faltando nas relações, cada um se escondendo mais e mais atrás do computador. Patrícia (Mescla) diz que dançar é matar uma sede imensa. Roque Antonio (Gata e Cia) percebe que quando dança a pessoa se sente “linda”. Jô Correa acredita que dançar é a busca do belo eternamente: “porque você nunca está satisfeito, você se emociona com o belo, você se realiza com o belo e há uma transformação, porque o belo transforma.”Deise, coordenadora da Ebateca em Alagoinhas, acredita na dança como o conhecimento por meio da sensorialidade. Para ela a arte sempre estará vinculada a alguma forma de beleza, mas, hoje, ela transcende qualquer dualidade para ser encarada como texto, que pode abarcar tanto o “feio” quanto o simbolicamente destrutivo para o nascimento do novo. Eloy Rodrigues fala que a dança trabalha com dois componentes essenciais no ser humano que é a libido e a transcedência, que podem ser traduzidos como uma espécie de um clímax emocional e sensorial.

Todos concordam com Jô quando diz que a dança transforma. Primeiro promove essa ampliação do sensível, do emocional e do intelecto. Eloy constata que em projetos sociais o resultado é imediato porque o ambiente  de convívio muda, o garoto passa ter contato com novas pessoas, novos valores. A visão de si mesmo, de sua vida é alterada positivamente. Por isso que Deise da Ebateca afirma, “não se pode pensar o balé como uma ponta esticadinha, ele contribui para uma consciência corporal, a relação do meu corpo com o espaço e com os outros corpos”.

A partir do trabalho na La Dance, a academia mais antiga, vários alunos seguiram carreira como dançarinos e muitos se tornaram professores como Fabíola, Carlinha e Ernesto. No Mescla, os alunos mais experientes já estão integrando bandas musicais, seguindo os passos da professora Patrícia que já dançou com Roy dos Menudos, Daniela Mercury, Gente Brasileira. Mas, o grande ícone da nossa dança se chama Edifranck, um ex-menino de periferia em total vulnerabilidade social; descoberto por Roque Antonio (Gata e Cia), recebeu ajuda de Jô da La Dance. Ele é o nosso ícone contemporâneo. Poderia estar dançando no exterior, já dançou para Natália Makarova; hoje, está muito bem no Balé Municipal do Rio de Janeiro, por opção. Existem bailarinos brasileiros nas principais companhias do mundo. É bom lembrar que o grande Nijinsk era filho de um paupérrimo camponês russo. Então gente, vamos dançar, fazer teatro, música. Fica cada vez mais claro que essa é a vocação da cidade. Por sinal, a Ebateca tem como um projeto se tornar uma escola de artes. Grandes musicais podem fazer parte do nosso futuro, não é preciso o dom da vidência para afirmar isso.


FONTE: DIAS, Paulo. A Dança Assume seu Espaço. In: Revista Portal da Cidade. Edição nº5/Março. Alagoinhas: PORTAL DA CIDADE, 2011.